O percurso profissional de António Araújo em Angola remonta a finais de 2005, na sequência de um convite da administração do BCP para participar no processo fundacional daquele banco angolano. Nomeado diretor coordenador comercial do Banco Millennium Angola, foi responsável por toda a rede comercial e fundador do banco, em Abril de 2006. Foi um “regresso às origens” já que o empresário, hoje CEO da A. F. Araújo
& Associados, em Leiria, é natural daquele país e detentor de passaporte angolano.
“A adaptação não foi difícil, não obstante algumas diferenças, principalmente ao nível de infraestruturas e logísticas de apoio, acessos rodoviários e níveis de formação profissional dos colaboradores que enquadrava”, explica o empresário que, mais tarde, integrou um grupo financeiro de matriz exclusivamente angolana, como administrador com o pelouro comercial.
A sua experiência em Angola em instituições bancárias permitiu a António Araújo um conhecimento profundo do mercado e das suas potencialidades, adquirindo know-how que o levou à constituição da sua empresa também de matriz bancária e financeira que opera a nível nacional e internacional. Como vantagem competitiva, a empresa adoptou o conceito inovador de global banking advisory de pendor anglo-saxónico, ou seja, um conceito “abrangente, pois, além de sermos um conselheiro bancário e financeiro por excelência, somos, também, muitas vezes, o interlocutor dos nossos clientes junto da banca, na busca das melhores condições de financiamento e de rentabilização de activos”, explica António Araújo.
Além disso, a empresa associa este posicionamento estratégico “a uma vasta rede de entidades que lhe são próximas e que consubstanciam um elevado potencial de negócio para as empresas, designadamente no seu processo de internacionalização para Angola”.
António Araújo assistiu à “transformação radical”, nos últimos anos, da sociedade angolana, não só a nível de infraestruturas, aeroportos, redes rodoviárias e ferroviárias, mas igualmente no desenvolvimento do comércio e indústria, abertura de novas unidades de saúde, construção civil, hotelaria, turismo, entre outras. “Esta evolução tem-se consubstanciado na melhoria significativa da qualidade de vida dos cidadãos”, refere, lembrando, contudo, que o que é mais relevante “é a emergência de um elevado número de novo quadros de grande qualidade profissional, tanto no domínio financeiro como em todas as outras vertentes da economia e da cultura”.
Já na área bancária, Angola “assistiu a uma modernização dos espaços de atendimento e a uma maior capilaridade de agências bancárias, abrangendo todo o país”, exprime. Além do grande enfoque na formação de pessoas e no desenvolvimento de softwares de apoio ao negócio, o Banco Nacional de Angola “tem prestado um serviço inestimável na modernização do sistema financeiro do país, no controlo da inflacção e na estabilização da moeda”.
Neste sentido, António Araújo considera que ao nível do apoio financeiro as empresas portuguesas “não sentem tantas dificuldades como em Portugal”. Tem-se assistido, lembra, “à crescente sofisticação do sistema bancário, com o legislador a facultar um enquadramento normativo específico a instrumentos financeiros, como o leasing e o factoring, bem como no âmbito do crédito à habitação e à promoção imobiliária”. Por outro lado, adianta, “o Estado avançou, nos últimos anos, com o lançamento de linhas específicas de estímulos ao financiamento, designadamente para micro pequenas e médias empresas, bem como o financiamento ao desenvolvimento agrícola, neste último caso, com uma notável intervenção do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA)”. O empresário afirma mesmo que as empresas portuguesas “usufruem, neste momento, de apoio bancário, sem paralelo, em relação a outros países africanos”.
Segundo António Araújo, tem-se assistido, igualmente, “a um esforço gigantesco por parte do Estado, de modo a reduzir gradualmente a dependência da economia do país da exploração petrolífera, o que constitui uma oportunidade única para as nossas empresas, nos mais diversos sectores de atividade”.
O mercado angolano continua a ser um mundo de oportunidades para as empresas portuguesas?
Constitui, sem dúvida, um acervo incomensurável de oportunidades. Lamenta- se, no entanto, que não exista uma política integrada do Estado português que apoie directamente esses investidores, bem como uma lógica associativa da parte dos nossos empresários. A busca de sinergias e complementaridades de negócio deveria constituir prioridade absoluta nos processos de internacionalização. A maior parte das vezes, cada empresa assume por sua conta e risco os ónus inerentes à sua internacionalização. Esta situação é endémica e deveria ser alterada no muito curto prazo. Portugal poderia ser o parceiro ideal para suprir uma boa parte das importações angolanas de outros países. Além disso, Angola oferece uma fiscalidade muito atractiva!
Mas tornou-se mais difícil do ponto de vista da exigência?
Desiluda-se quem ainda equaciona a abordagem àquele mercado, doutra forma. A célebre “política do contentor” no seu sentido mais pejorativo, acabou! Os angolanos estão cada vez mais abertos ao mundo, conhecem e procuram a qualidade e, além dos segmentos da população com melhor poder de compra, vamos assistindo a um crescimento inexorável e sustentável de uma classe média jovem, com um bom nível de formação e com poder económico. Temos de ser muito exigentes, pois, competimos com alguns dos países mais desenvolvidos do mundo!
O que devem os portugueses levar na bagagem quando partem para Angola?
Devem levar o máximo de informação obtida junto de quem conhece a realidade do país, encontrar um interlocutor válido, estabelecer relações de confiança recíproca, numa lógica win-win, ter uma boa capacidade de adaptação e respeito pela cultura local. O povo angolano é muito acolhedor, amistoso e relacional, o que constitui uma enorme mais-valia para o desenvolvimento de parcerias de implementação e desenvolvimento profícuo de negócios! Em Angola, Portugal não é “mais um” como noutros mercados mais desenvolvidos. É o País que partilha com os angolanos mais de cinco séculos de História… De que estamos à espera para delinearmos uma política económica integrada e abrangente e de respeito mútuo com os angolanos?
Quais as diferenças entre aquele mercado e outros destinos fora da Europa?
Estamos perante um grande país, com uma economia emergente, pujante e que carece das nossas competências e do nosso posicionamento geoestratégico privilegiado, tanto junto da União Europeia, como de outras economias.
Além disso, faz parte da SADC – Sociedade para o Desenvolvimento para a África Austral, que, não tenho dúvidas, irá, um dia, ser um mercado integrado com mais de 300 milhões de consumidores. Angola será uma alavanca fortíssima para chegarmos a esses mercados. Estamos, pois, perante economias de elevado potencial de negócio, com um longo percurso de desenvolvimento à sua frente, e com populações jovens! Por outro lado, a lusofonia não tem preço! Constitui uma vantagem competitiva ímpar.
Representa a meu ver, o futuro estratégico de afirmação de Portugal no mundo. Fomos o grande país das Descobertas, basta sabermos encontrar a fórmula certa para nos redescobrirmos e afirmarmos no mundo!
Revista do Jornal de Leiria “ANGOLA, uma nova realidade” publicada no dia 5 de Dezembro de 2013